segunda-feira, agosto 04, 2014

Aqui sou eu assim
Sonolento no meio da tarde
E pensando que a morte é um trem
Avançando contra mim.

Leleco.
Boca
De poeta
No seu beijo
Basculante.

Leleco.

Meteorito

Não sei se acredito em números ímpares
Ou insisto nos pares
Se sou besta
Se tenho olhos verdes
Ou se visto camiseta preta.

Também já não sei sobre o meu pâncreas
Ou a tintura castanho dos seus cabelos.
Não sei se devo trabalhar, pagar seus beijos a prestações,
Trocar dólares no aeroporto,
Fazer remo, comer sushi, correr na praia
Ou comprar uma arma.
Preciso apenas escrever poemas
Antes que meus ossos apodreçam.

Aquele seu amor meteorito
Caiu silencioso em mim
Durante a colheita das uvas.
E foi desse jeito que eu percebi que você ficaria
No meu mundo ou qualquer coisa assim.

Leleco.

Vermelho lábio
E nada mais me parece
Exato.

Leleco.
E eu te digo
Que além do que sinto
O amor ainda é uma invenção.

Leleco.
Calma, menina
Não há mulher que substitua
Essa tal de Cecília.

Leleco.
Eram duas mulheres
Em busca da mesma
Poesia.

Leleco.
Duvido que o seu marido
Faça sorvete de tamarindo
Ou poesia no jornal de domingo.

Leleco.
Antes que a botânica
Chegue ao fim
Flores de mim.

Leleco.

Rasgado

Aconteceu na noite que perdi a palavra
No tempo que gastava suas ilusões.
Eu não quis prometer qualquer forma ou fechar portas
Mesmo que cedo ou tarde
O amor nos abandone.

Eu apenas quis caber entre o espaço
Do que fui e do que esqueci de ser.
Eu não culpo mais ninguém
A não ser a minha confusão.

Nós ainda estamos
Entre contratos rasgados e outros planos.
Nós ainda somos
Por todos esses anos
A cura distraída da solidão.

Leleco.
Cova
Ardia
O nosso medo.

Leleco.
O fim do mundo
Foi meio chato
No último segundo.

Leleco.
O amor
É um acidente contínuo
A me virar pelo avesso.

Leleco.
Por via das dúvidas
Eu quero uma dose
De vodka.

Leleco.
Da galáxia à bactéria
Eu sou o seu amor
Em total miséria.

Leleco.
Era a mesmilíngua
Em seus mil e quinhentantos
Beijos?

Leleco.
Pra onde ir
Se não for
Enfim.

Leleco.

quinta-feira, maio 08, 2014

O seu não
Pode ser sim
Dizia o signo que li.

Leleco.

Nota de Falecimento II

Leleco, que estudou para ser musicoterapeuta e depois virou psicólogo, que nasceu em Belo Horizonte e claro virou poeta, que morou no Rio de Janeiro, que usou cabelo curto e comprido, que aprendeu a amar como quase todos nós, que conheceu a loucura, que se alegrou e se entristeceu, que já bebeu cerveja e viu passar aviões e helicópteros, que se perguntou onde andariam Fernando, Léo e Alexandre, que completou o álbum de figurinhas da Copa União 87, que às vezes cansado e às vezes não, que trabalhou 60 horas por semana, que torceu a ponta do bigode, que escreveu uns versos, que cantou canções, que fumou cigarros, que dançou em bares, que esqueceu o tempo, que acordou em outras camas, que colecionou selos, que nunca recebeu cartas, que pensou em suicídio no verão de 2008, que vomitou em banheiros sujos e que espera o nascimento de sua filha como se começasse a viver agora.

Leleco.
Ser afim
Ou
Será o fim?

Leleco.

sábado, abril 26, 2014

Eu só quero um pouco
Do seu máximo
Mínimo amor.

Leleco.
Tanto faz
Se é amor
Ou improviso de jazz.

Leleco.

domingo, abril 20, 2014

A vida vai te dar histórias
Amareladas ou não pelo tempo.
A vida vai te dar amores e desamores
Que você vai lembrar ou esquecer
Pelo resto dos seus dias.
A vida vai te dar uma porrada de contas, cólicas, supermercados e bares.
A vida vai te dar gozadas, brochadas, "a culpa não é sua!" ou "vamos deixar rolar!".
A vida vai te dar códigos, acasos, boletos e pedágios.
A vida vai te dar um filho, sorrisos, fraldas
E responsabilidades que nunca imaginou.
A vida vai te dar paisagens incríveis
E a emoção de ver o seu time campeão.
A vida vai te dar canções inesquecíveis, poesia e putaria.
A vida vai te dar ressacas, festas e beijos intermináveis.
A vida vai te dar banho de cachoeira, vento no cabelo e a solidão do medo.
A vida vai te dar uma velhice, sonhos perdidos e uma lápide.
A vida vai te dar a minha vida
Presa em seus cílios
Minha filha, Cecília.

Leleco.
Na existência terrível do infinito
Ou no tédio de domingo
Sou seu sim
Nem tão são.

Leleco.

quinta-feira, abril 03, 2014

Naquele abraço
Um adeus
Que nunca mais.

Leleco.
A saudade não é mera questão
De maiúsculas
Ou minúsculas.

Leleco.
Como quem não quer nada
A vida não passa
De uma piada.

Leleco.
E eu já não sei
Se é jogo
Ou se vida.

Leleco.
Meu corpo é refúgio
Desse espírito
Confuso.

Leleco.

sábado, março 08, 2014

Asa
Finge que voa
Pra perto da minha cama.

Leleco.
Na sua batalha
Eu sou
O fio da navalha.

Leleco.
Eu não sou hiena
Para rir alto
De qualquer hiato.

Leleco.
Eu e você
Nesse Karmaval
Fora de época.

Leleco.
Tudo combinado
Caso contrário,
Eu caso.

Leleco.

quinta-feira, março 06, 2014

Hoje não chegam notícias
Lâmpada queimada no meio do tijolo
E eu preciso tanto do seu colo.

Leleco.
Há dias em que tento
Ser sua única palavra
Antes que nos falte o tempo.

Leleco.
Sabe aquele troço
Que eu disse
Que era só nosso?

Continua aqui
Mesmo longe
Perto de mim.

Leleco.
Confessa sem pensar
Que faço o seu coração
Disparar.

Leleco.
Cansou de engolir enganos
Antes dos seus
Trinta anos.

Leleco.
Acordei com a falta
Era uma falta aguada
Um pouco barrenta e um tanto benta.

Leleco.